Abelharuco

Tudo em nome da verdade,
Suspira o mestre Tecelão,
Que hei-de tecer no abelharuco,
 Se meus olhos não valem nada,
Não vejo nem verei ,
Minh'obra terminada,
Nem sei que fazer
 A este montão de linha verde,
E à outra mais encarnada
E à cor amarela de flor,
Diz-lhe o aprendiz de pronto:
-Não temas mestre Agapito tecelão,
Mudaremos o nome à obra quando terminada,
"Abelharucos-colhidos-nos-dias-de-irrealidade",
Assim fazem ,os personagens furtivos da tua mão,
que correm pela cidade.
Suspira mestre tecelão de novo:
-É verdade ; tens toda a razão,
Vê , como bailam felizes , no que pensam , ser real,
Os bonecos que crio,
Em madeira e lã , onde está a verdade?
Sorri mestre Agapito , mirando
Pinoquio por sobre os grossos oculos.

 Jorge santos