De regressar tenho



Acende-se uma luz vaga no bosque,
É para aí ,devagar , que vou.
Agita-se a ramagem ,no salgueiro,
Como por magico toque,
Pelo som, assim ,de manso , sou
Conduzido , como mariposo,
Acende-se uma vela ,devagar , na velha casa,
Cheiram os jardins a mimosas,
Do canteiro voa lenta a ave da noite,feiticeira,
Acende-se uma luz vaga , atrás da porta ,
É para lá , que vou , devagar , voando ,
Nada mais interessa,
Tudo em volta está imerso em mariposas,
Avanço de toque mágico,
E o som de asas preenche o espaço , numa claridade bela,
Acende-se uma luz na floresta,
virá  alguém ?

Jorge Santos






Avesso ao Mundo

No Vendaval do fim do mundo, fim de tudo,
Onde meu pensamento vai morar,
No bico afiado do ouriço-do-mar,
Em torvelinho, no areal furibundo,

Me u coração insiste, não pára,
Pregado no corpo, apesar de negado
Por não o achar mais no prado fundo,
Nas ravinas do abismo, minha beira

De vácuo profundo e tristeza pousa
Breve em imponderável resma de papel
Almaço rasurado à pressa na mesa
Voa da janela no espaço sob a pele.

Turvo vemto torpe, galopas meu salmo
Sem rei nem roque; Leva-me para longe
Onde o areal ondeante e o mar seja calmo
Aqui, no canto estou e tudo me foge.

Dispersa, Ó vento , este corpo em cinza,
Imolado de cal e ira , em Saturno,
Venta , num peito sem veto e sem premissa
Como tu, vendo o nada e estou nu.

No vendaval do fim do mundo, fim de tudo
Ond’eu fui d’avesso morar, meu lar,
No côncavo mar, me deixa pois lembrar
Se aqui o meu lugar, longe e mudo

Jorge Santos





Sou daquelas almas
Que as mulheres dizem que amam,
E nunca reconhecem quando Encontram,”
Daquelas que, se elas as reconhecessem,
Mesmo assim não as reconheceriam.
Pra ser franco sinto perto uma linha que me divide
Entre o concreto e o metafísico, e uma dor extrema no peito.
“Sofro a delicadeza dos meus sentimentos,”
De alquimista e maquinista dos invernos
“Com uma atenção desdenhosa.
Como dos caracóis recolho-me e d’eles
“Tenho todas as qualidades,
Pelas quais são admirados os poeta românticos,
Mesmo aquela falta dessas qualidades, pela
Qual se é realmente poeta romântico.
Encontro-me descrito (em parte) em vários romances
Como protagonista de vários enredos;
Mas o essencial da minha vida, como da minha alma, é
Não ser nunca protagonista."
É antes ser autista quando preferiria ser artista e quiçá igual ao
Anarquista do conceito quando afinal sou grosseiro.
"O cais, a tarde, a maresia entram todos,
E entram juntos, na composição da minha angústia.
As flautas dos pastores impossíveis não são mais suaves
Que o não haver aqui flautas e isso
Lembrar-mas."
Lembrar-mas nos ermos que lasquei fascinado
Sem encontrar uma clave de Sol e os tesouros
Que valem ouros prosados e vícios fenícios.
Me levem daqui pós migrados de aves de voo
Tantas vezes replicado no sul.
Os paióis de minhas explosões são artefactos
Caseiros e artes que não detonam.
Sou sequelas d’almas com rasgado sorriso
Que se transmuta em ouriço
E parte para outro ofício , outra angústia.



Joel em PESSOA