Curtos dedos



Amarro-me eu, pl's beiços 
E a mim mesmo, plas cordas que teço, 
Não faz mal que sejam pequenas ou finas, 
Assim tenho os mesmos lugares 
No mundo onde me perder 
E o fôlego todo, 
Pra tecer coisas mais duráveis, 
Qu’estes curtos dedos.

Sei que preciso de Primaveras em meu colar,
E do calor do Verão pra derreter o gelo,
No olhar e no beiços aramados,
Que resistem e me prendem a estas paredes
De cal e gesso, brancas como neve de gelo,
Duras do arame em estuque...


Jorge Santos (01/2014)


Noção de tudo ser menor que nada




Noção de tudo ser menor, que nada
Ser - A lua brilhando inchada,
O ventríloquo coração
A compensar a excessiva exatidão,
O embarcar com bilhete só d’ida,

Pro lado vazio dest’alma,
-Fugir de tod’esta gente,                                                        
Como sonho desinteressante,
Que mal se recorda,
Como um cão sem dono nem ladrado,

Fui passado sem presente,
Vagão passando rente
Ao suicida, a ironia do falhanço,
-Sendo eu, em tudo o que faço,
Causa/efeito do falso sentido.

Sou de tudo num dia e nada
Noutro, senão palhaço,
Desses a que se dão corda,
Na grotesca marcha do corço.
Sou forcado de curro e cornada,

O ventrículo e a laça aorta,
Servindo literáriamente de forca,
O sentimento de natureza morta,
Que foi no voar, uma ave branca,
Quando esta, o voar abranda…


Joel Matos (01/2014)

Poeta acerca...




Pra’lém do que há, o mais certo é não haver
Mais nada a juntar ao que já existe…
Ideia absurda - a realidade ser equidistante,
Da visão dum louco, quanto do meu ver.

Em encontros casuais com a realidade,
Parecemos formar um par perfeito,
Funcional, diria até, um casal de respeito,
Que acaba discutindo como qualquer outro.

Coloquemos, entre quatro paredes, sem ar,
O quadro a óleo, de uma pintora morta, praticamente famosa…
Continuará abstrato, na anónima estrutura do pretenso lar,
Como uma peça morta, do que se pensa ser- A NATUREZA-

Assim somos, eu e a realidade, descremo-nos,
Mas procuramo-nos mutuamente, nos pensamentos
Um do outro, ansiosos, como tudo enquanto espera.
Apenas não creio que seja efetivamente verdadeira

Ou quem diz ser, estando eu um passo distante dela.
Pra’lém do que há, haverá sempre, uma versão outra
Do real, escarrapachada nos céus, feita linha ou tela
E um poeta acerca, que no fundo, tudo o resto ignora.


Jorge Santos (01/2013)