O meu caminho levanta-se e ergue-se como um muro...




Tenho dias duplos, em que me sinto como se nada
Sentisse, Tenho dias, em que minto e me culpo,
Por tudo e por nada e depois d'outros, em que 
Me fio, na navalha que aponta e esfola.  
E dias sem razão, são mais e muitos, tenho
Dias de festejar em duplo, com mosto e dias curtos,
Como a palma da minha mão, em cheio no rosto…
Tenho dias em que nada mais sinto,
Senão desgosto e culpa, dias em que me oculto.

Transporto o monumento, em que corto os pulsos
Por desgosto, será inverno o ano todo, sem a alquimia
De Agosto, isso sei eu, 
o que hei-de dizer das
Estrelas comuns que miro, depois do sol posto
Serão elas amanhã o nosso monumento mesmo
Num Janeiro frio
"as estrelas do coração 
Incomum"


Liberto em duplo, 
abandonei-me na paisagem abaixo, 
O vulto do cais e a estrada nítida e calma 
Que se levanta e se ergue como um muro,
A chuva oblíqua que me atravessa
E depois cai.

Sorvi o vento solto,sustive o tempo,
Dormi entretanto, no cárcere breve,

Que é o meu corpo, liberto de tudo, 
Nulo em duplo.

(Jorge Santos) 

Azul Profano




Quem se fingiu de mar azul?
e tingiu d'mar est'mundo ? 
Ama ele agora de verdade o sol profundo
e o mar sem fundo que se fingiu sem sal...quem
fugiu pro ultramar e se esconde no chão do mar ? 
ao marinheiro dos sonhos,
não basta abalar, nem o luar
tem de fingir que não volta
d'outro mar
D'outo amar noutro lugar 
estranho
d'azul profundo d'amar profano
Fingi eu ser deste mundo...

(Jorge santos)

Poema da linha do horizonte.









Poema da linha do Horizonte.


Entre o aonde e o perto, decerto
Escolho o longe e o beijo do deserto
Distante, Homérico…
Por ser mais incerto se me perder

Pressuposto é…
Poder ver de-lá, o sol-posto,
O céu cor de escarlate e bege,
O beijo do sol-poente
E as montanhas de fogo
Estenderem-se p’lo horizonte,
Pungente de leite-creme e nata.

Prendo a amplitude d’um folego,
Não vá desaparecer de repente,
O ilógico e frágil,
Encanto, 
Um mágico com estandarte
D'invólucro, de fractal silêncio,
Envolve-me a razão,
Como um feliz queixume…
…A-céu-aberto

Será caso pra que se não erre nós, caminhos
E cruzamentos, assim como
Se  não erra, nos sinónimos
Da palavra te-amo,

-Amo o longe e o pra’onde
-Amo o incerto e o lugarejo
E que o vento, me convide
Pra um pais longínquo,
Aonde ande o descalço,
O mago e o beijo do horizonte.






Jorge Santos (03/2103)

Vivesse eu na paz dos imortais



Vivesse eu na paz dos imortais

Tivesse eu, fé nos lábios meus, quando escrevo
E majestade nos dedos; resgataria o frenesi
Cativo nos frutos da paixão, tornaria servo
O aroma do azul motim e o esplendor da relva no jardim
Tivesse eu, a fé de recheio em mim, como um ovo,

Que nem humildes nuvens me suspendem os beiços,
Como posso sentir, o sentir de Deus, em “technicolor”
E alterar o pão em vinho se depois, reparto pedras, teixos
E amostras sem valor de poemas “multiflavor”.
Antes que os medos e o receio me vençam, quero ter dedos,

Como se falassem a Deus, na fala de Prometeu. Se s’crevo,
O que não diria eu, sendo dele, pra’além d’afiançar
Ser sentido, apesar de não ser real, o meu canceroso acervo.
Vivesse eu, na paz que os imortais assumiam como seu samsara
E pudessem minhas mãos florescer, na estação do novo,

Teria eu, fé nos lábios meus, enquanto soberano
E poderia ter ameias de plácidos castelos, nos rombos dedos.
Vivo eu no contraditório dos normais,
Sou desconhecido nesse paradeiro e meu dom,
Habita escondido, sem o saber, no coração dos imortais…

Joel matos (03/2013)

Homilia ao silêncio...


Homilia do silêncio


Perguntei ao silêncio porque se iludia de sigilo,
Repetiu-me do exílio a censura e o vácuo,
Pousando os tentáculos à volta do espólio
Do meu peito, interrogando-por quem eu sou?

Perguntei ao silêncio onde jaziam as palavras
Dele, compareceu-me o nada e o esquecimento
Com a ousadia pouca, das coisas profanas e avaras,
Mirando-me com um esgar de contrafeito.

Perguntei ao silêncio, o significado de contradição,
Retorquiu um eco árido e oco como piras a arder,
-Porque levava eu de dentro, tamanha danação,
E coisa alguma num taleigo, impossível d’apegar.

Perguntei ao silêncio, se alguém me ouviria, pra’lém
Do fim, respondeu-me a morte, na esquina da sala,
-Completa a vida tua e amaina a miragem,
Essa que alguns pensam ter da lucidez o saldo…

Perguntei ao silêncio o cargo que ocupava, na suprema
Escala humana e não obtive resposta alguma…



Jorge Santos (03/2013)