Quem irá recordar-se de nós,
A quem não bate certo, o coração,
A razão e não sei que mais. De nós,
A quem de condição, foi bera e peão
Da’brega, do marrar em tudo, por um nada,
De Estoirarmos, como fogo-d’artifício breve,
Nós, os campeões em levar porrada,
Os Blasfemos de Jové, da noite, da “rave”,
Sem dormir “por nada”, porque os nossos sonhos,
Ou são de raiva ou viram angústias e manhãs d’azia,
Se nem sequer temos os sonhos que queremos,
Fantasiamos, os d’outros como nossa parede meia.
Quem irá recordar-se de nós,
Como somos, sendo nós a escala e o tempo,
Condensamos seculos e heras em cenas e segundos,
Condenados somos, como gentios do ghetto
Em noites de cristal e palácios do fim,
Há em tudo o que fazemos, despropósito e algo que define
A ração do incomum, uma revolução inédita dita jasmim,
Um mundo inteiro em lume e a mnemónica que nos une,
A dor que sentimos ao descrever o vazio e o horror
Que nos banha e afoga de desesperança
E nos céus noturnos questionamos o Divino Amor
Do santo-espírito-da sumida-esperança
Quem irá recordar-se de nós assim…quem?
Quem irá recordar-se de mim…quem?
Jorge Santos (01/2013)