Deixei ficar pra trás o coração e morro devagar,
Como tem de ser; e o que distingue afinal
Um devoto, dum vulgar ramo á deriva num mar,
Pressuposto lar, pra uns; pr’ós outros insonso-sal,
Não é que, ao crepúsculo, eu seja desapaixonado,
Nem ao mar, nem ao dourado das folhas no outono,
Mas vejo-as como se fosse prefácio do meu sonhando,
Sem ter uma ideia separada, para o que é corpo e alma.
Sei que as coisas não são senão coisas com coisas dentro
E comigo passa-se o mesmo, desembrulho
Ideias como se fossem cebolas, com cebolinhas de dentro,
E existir passou a significar tão só, escritos dum embrulho,
Qual quando molhado, esbranquiça e se dissolve.
Sou causa ex-tinta e convenço-me que já não existo
Por ter esbanjado o que o tempo e o espaço serve,
De graça como se vivesse num quarto de beirado.
Cada dia acordo com a visão do que parece um nada-vivo,
Depois debato-me até ao final do dia e acrescento na certeza
O pretender viver, uma espécie de vida de longo prazo,
Tendo no peito e ao vivo, um paradoxal parceiro, “O positivo”.
Joel Matos (12/2012)
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